AS CHUVAS DA MINHA INFÂNCIA
Depois de um sol escaldante
Daqueles espremer suor do corpo da gente,
Vem um pé-de-vento
Varrendo tudo que acha pela frente,
Com ele vem uma manga d’água
Que logo se transforma em um toró de chuva,
Que rola no chão em enxurrada de água e lama
Descambando rumo aos rios e córregos,
Os quais bufam de cheios, afogando suas margens
Numa vingança por comprimi-los na época da seca!
No céu, línguas de fogo lambem as nuvens negras e rechonchudas!
Então, o céu abre a boca a gritar e a roncar, numa trovoada infernal!
Passando a chuva, o Sol desfecha infinitos raios de luz sobre a Terra
E o arco-íris vai beber água lá na cabeceira do rio!
Após a chuva, os animais, bestamente alegres, dão pirueta pra lá e pra cá
E a passarada abre o bico a cantar, numa orquestra de milhares de vozes.
Até a alma da gente fica qual manteiga derretida, sorrindo a toa,
Meu pai, então, só fala em sua lavoura: “Não vai perder uma semente”
E canta e assovia de alegria, de contente!
Dúbia mãe Natureza, ora trata seus filhos com violência
Ora com mansidão; mas, sempre com muita fartura e clemência.