AS CHUVAS DA MINHA INFÂNCIA

Depois de um sol escaldante

Daqueles espremer suor do corpo da gente,

Vem um pé-de-vento

Varrendo tudo que acha pela frente,

Com ele vem uma manga d’água

Que logo se transforma em um toró de chuva,

Que rola no chão em enxurrada de água e lama

Descambando rumo aos rios e córregos,

Os quais bufam de cheios, afogando suas margens

Numa vingança por comprimi-los na época da seca!

No céu, línguas de fogo lambem as nuvens negras e rechonchudas!

Então, o céu abre a boca a gritar e a roncar, numa trovoada infernal!

Passando a chuva, o Sol desfecha infinitos raios de luz sobre a Terra

E o arco-íris vai beber água lá na cabeceira do rio!

Após a chuva, os animais, bestamente alegres, dão pirueta pra lá e pra cá

E a passarada abre o bico a cantar, numa orquestra de milhares de vozes.

Até a alma da gente fica qual manteiga derretida, sorrindo a toa,

Meu pai, então, só fala em sua lavoura: “Não vai perder uma semente”

E canta e assovia de alegria, de contente!

Dúbia mãe Natureza, ora trata seus filhos com violência

Ora com mansidão; mas, sempre com muita fartura e clemência.

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 28/10/2012
Código do texto: T3956141
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.