NOSTALGIA

Em um dia nublado de muito frio,

O banco de uma praça vazia

Ao lado de uma velha árvore sem folhas.

Em uma praia deserta durante a ventania,

Alguém sentado em uma pedra olhando o horizonte

Ignorando as ondas que quebram com muita força.

Sob a persistência de uma chuva fina,

Um cachorro branco, grande e velho

Esperando ao lado da vitrine de uma loja.

Por detrás das grades de um portão enferrujado,

Um menino franzino com a cabeça entre as barras

Mirando um gato que atravessava a rua de paralelepípedos.

Ao fim de uma rua larga e sem saída,

Num muro cheio de lodo com o reboco quebrado,

Um nome de menina escrito a carvão.

À margem da cerca de uma fazenda,

Límpidas poças bem dispersas

Ao longo de uma estrada de chão.

Em cima de uma cômoda de jequitibá,

Uma moldura de bronze que expõe a foto

De alguém muito sério e bem vestido.

Não sei bem o que querem dizer essas coisas,

Mas elas vêm sempre à memória quando estou triste

E me deixam sempre a vontade de continuar triste

Para lembrar dessas coisas que nunca tive ou vivi.

É como uma coceira entre os dedos do pé

Que ficamos esfregando nos punhos da rede

Bem devagar pra que ela não acabe.

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 18/09/2012
Reeditado em 09/03/2013
Código do texto: T3887858
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