NOSTALGIA
Em um dia nublado de muito frio,
O banco de uma praça vazia
Ao lado de uma velha árvore sem folhas.
Em uma praia deserta durante a ventania,
Alguém sentado em uma pedra olhando o horizonte
Ignorando as ondas que quebram com muita força.
Sob a persistência de uma chuva fina,
Um cachorro branco, grande e velho
Esperando ao lado da vitrine de uma loja.
Por detrás das grades de um portão enferrujado,
Um menino franzino com a cabeça entre as barras
Mirando um gato que atravessava a rua de paralelepípedos.
Ao fim de uma rua larga e sem saída,
Num muro cheio de lodo com o reboco quebrado,
Um nome de menina escrito a carvão.
À margem da cerca de uma fazenda,
Límpidas poças bem dispersas
Ao longo de uma estrada de chão.
Em cima de uma cômoda de jequitibá,
Uma moldura de bronze que expõe a foto
De alguém muito sério e bem vestido.
Não sei bem o que querem dizer essas coisas,
Mas elas vêm sempre à memória quando estou triste
E me deixam sempre a vontade de continuar triste
Para lembrar dessas coisas que nunca tive ou vivi.
É como uma coceira entre os dedos do pé
Que ficamos esfregando nos punhos da rede
Bem devagar pra que ela não acabe.