Rastro de suor e sangue
Rastro de suor e sangue
Fui seguindo meu rastro, levando entorpecentes na mochila.
Coloquei o pé na estrada, rumo à minha jornada...ao desconhecido.
Precisava fazer o caminho de Santiago de Compostela!
Abster-me de tudo, que sempre esteve ao alcançe das minhas mãos,
Feito o pão na padaria, saindo do forno.
A comida congelada que coloco no microondas.
A água quente, jorrando do chuveiro...
Andarilho, não tem contas pra pagar, nem sonhos,
Só uma meta, pra onde? E poder andar, depressa ou devagar...
Deitar à sombra de uma palmeira ou uma marquise
E remexer o lixo, quando tem fome..."Quanto desperdício"...
Sem celular...Não quero nenhuma ligação com pessoas que conheço.
Quero outras línguas, deitadas no travesseiro de pedras que adormeço.
Tive um pesadelo!
O meu amor, havia se enforcado com a coleira do cachorro.
Tinha um palmo de língua, para fora...
(Coloquei-a para dentro...Mas não me lembro!)
E os olhos abertos, olhando para a porta que adentrei...
De joelhos, clamava à Deus, por ajuda e a todos os Santos...
Nem sei por quanto tempo fiquei andando ajoelhado
Deve ter sido por muito tempo...
A calça branca, puída, na altura dos joelhos.
O corpo enrolado numa coberta, desceu no elevador
Levado por funcionários do IML.
Eu ouvia uma voz dizendo: Cuidado com a cabeça!...Cuidado!...
(A voz era de Dalva, mãe do meu amado afilhado Leandro.)!...
Como se o cadáver, sentisse dor...
O apartamento, estava repleto de pessoas conhecidas...peritos e polícia.
Eu desfalecido num sofá, de dois lugares...
Estranho...Minha irmã de criação dizia para mim: Vem comigo!
Fechei as cortinas do quarto cantando:
"Ò metade de mim
Ò parte amputada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
De um filho que já morreu"...
Corri para vomitar, no vaso sanitário...
Acordei: Não era pesadelo...
Lembranças do passado.
Ainda doem-me os olhos, de tantas lágrimas derramadas de cócoras
no banheiro.
E na fronte, cicatrizes de tanto bater com a cabeça na parede.
Absorvido de crime, por ter sido constatado suicídio
E com culpa, não convivo, por ter entregue todo meu amor.
(Durante dez anos de casamento...)!
Pseudo-recuperação...lenta...longa, dores indescritíveis, fúnebres
E doenças psicossomáticas...
Ganha sabedoria, força e luz...quem sai, quase ileso, de uma tragédia.
A batalha não foi perdida...É de vitórias que se vive...
Preciso ficar em silêncio, por tempo indeterminado
Sem nenhum contato físico. A não ser estupro.
Feito meninos e meninas, pelos parentes mais próximos Ou Párocos de Igrejas.
Vendi meus desvelos e pecados, à Deus e ao diabo...
Doem-me os pés...roubaram os meus sapatos...
Os ratos, não vivem só em bueiros,
Moram em cidades modernas, projetadas feito asas de avião.
Quanta dor, carrego comigo, apenas o esboço d'um sorriso
E uma lágrima congelada no meu rosto e mesmo assim, eu sou feliz...
A perda de amores, tem consequência dramáticas
Fazem bueiros profundos e corte com gilete n'alma.
No percurso que faço, não preciso abrir janelas
As paisagens estão abertas e são infinitas
Precisam ser vistas com os olhos de dentro para fora.
Preciso de um banho e tantas cachoeiras ficaram no caminho.
Banho-me num rio, com as mãos para cima,
Segurando a mochila e os entorpecentes...
Fiquei nu...as roupas foram levadas por adolescentes
Em suas maldosas brincadeiras...
Sentei-me à sombra de uma árvore, precisava de entorpecente...
Abri a mochila...retirei apenas um...
Abri numa folha do livro, alienatório...
Fiquei entorpecido....
Não por segundos, acho que para sempre.
Tony Bahia.