NAVEGAR FOI PRECISO...
Ontem encontrei um navegante...
Sentado na beira do cais,
escutava o som do vento.
Ao contrário do ser comum,
ele escreve a realidade da alma
e misteriosamente faz dela poesia.
Transformava os sonhos em linhas.
Trafegava insone para lá da realidade.
Quase todos falavam do amor
e de suas infinitas possibilidades.
Quase todos elegeram o calvário seu altar.
Ele me ensinou a imaginar.
Traz no corpo sinais
das incontáveis vezes que atravessou o Mar.
Ele ama ou odeia com igual intensidade.
Para quem tem de confiar nas marés...
Não existe meio-termo.
Ninguém jamais conseguiu dele
a entrega total porque sua alma
é um território longínquo ainda a explorar.
Ele fala com as estrelas,
que envergonhada se tornam cadentes
num ato de paixão e loucura..
Como todo navegante,
sua companhia é a solidão.
Mas um ser só
sempre será
na grande viagem de cada um de nós.
Ele não vacila e não se priva.
Bebe da garrafa até o último gole.
Trás no baú histórias reais amores vividos,
decepções sofridas e amigos jamais esquecidos.
Seus relatos são invariavelmente fascinantes.
E foi ontem quando eu passeava pelo cais...
Ele me olhou nos olhos
e arrancou minhas máscaras.
Deixou meus sonhos expostos ao chão.
Riscou com carvão
a minha única desbotada aquarela.
Amou meu sentir
sem pedir nada em troca
e depois partiu.
Ensinou-me a sonhar com a vida
e para sempre,
permaneceu tatuado em meu coração.