PALHAÇO
PALHAÇO
Há muito tempo baixei a cartola,
Limpei as aquarelas da cara
Arranquei o sorriso do rosto.
Hoje sou o palhaço que chora.
E os traços apontados nas fácies,
São lembranças do meu picadeiro.
E do amor que ainda cala no peito!
Essas esquinas na minha expressão,
Esses calos doídos e lavrados no corpo,
São simples e tristes metáforas...
Rascunhos mal ensaiados de uma vida.
E ainda ecoam ensurdecedor em meus ouvidos...
O adeus impensado, daquela que foi a minha vida.
E os gritos, os alaridos e as gargalhadas,
Quando eu tombava no meu picadeiro.
Hoje, contudo, desmoronei de verdade.
Aposentei as antigas e amigas insígnias,
Que me demudavam no palhaço brejeiro.
Agora ouço as gargalhadas da vida.
Parece um coro de vozes satíricas.
A chamar-me de triste palhaço!
Albérico Silva