Em recôndito
Em recôndito, fê-la o amor
Em argumentativo de solidão excêntrica
Fausta à completude agridoce dos meus dias amargos.
Repousa inveja alheia.
Nasce e desabrocha paixão.
Quem dera Orfeu tivesse Eurídice tão bela...
Quem dera eu não tivesse o azar de Orfeu...
Quão dessemelhante é a sorte?
Quão sortudos são aqueles vitimados pelo amor?
Em recôndito, fê-la a morte
Leviandade infinita faz do céu tempestuoso
Cria-se olhar choroso em ambas as partes
Vitimada por um tumor malígno
A escolheu por ser tão bela
Ou pelo êxito obtido em nossa união?
Será a morte tão invejosa?
Será o câncer tão impetuoso?
Em recôndito, fi-la eu
Num poema salobro
Com amor gostoso
Em pensamento,
Sem final.