ATÉ MORRER DE VELHICE
Hoje amanheci lembrando
Dos meus dias infantis,
Revivendo as cenas belas
Das manhãs primaveris,
E conclui, quase absorto,
Que um dia já fui feliz.
fui um goroto feliz
No seio dos meus parentes,
Não conseguia ser triste
Nem vendo os meus pais doentes
Pois, não existe tristeza
Na alma dos inocentes.
As estrelas reluzentes
E a beleza do luar
Vieram à minha mente
Sem qu'eu podesse evitar,
Tive que ser muito forte
Pra não pegar a chorar.
Eu gostava de brincar
Dentro do mato fechado,
No meu cavalo de pau
Supostamente montado,
Sem saber que aquelas cenas
Perdiam-se no passado.
Em um córrego espraiado
Um açude eu fabricava
Mas, depois que a chuva vinha
A enxurrada o levava,
Eu perdia o meu trabalho
E papai ainda brigava.
Quando criança eu pensava
Que a vida era sempre mansa,
Desejava ficar velho
Para inspirar confiança,
E agora sinto saudades
Dos meus tempos de criança.
Percorria a vizinhança
Sem ter calçado no pé,
Não pensava no futuro,
Levava a vida ao laré:
Ser criança é ser feliz
Mesmo sem saber que é.
Sinto que o passado é
Um filme fora da tela,
Meu pai ainda está vivo,
Mamãe está nova e bela,
Mas eu não sou mais criança
Pra dormir no colo dela.
A saudade me flagela
Quando eu lembro a meninice,
Por isso de hoje em diante,
Nem que pareça tolice:
Vou viver como criança
Até morrer de velhice.