JUDEU BASTARDO

JUDEU BASTARDO

Jorge Linhaça

Dizem que o sangue fala

O meu fala mais do que a boca!

O meu brada uma herança negada

Uma herança perdida.

Minha genealogia real se perdeu no vento

Mas o sangue clama

Ferve nas veias a cada afronte ao meu povo

Não sinto ódio, apenas pesar.

Sinto a revolta das vidas perdidas!

Sinto o gás de Aushwitz envenenendo meu sangue!

Sinto os fornos de Treblinka consumir meus ossos!

Sinto os estilhaços dos homens-bomba rasgarem-me a pele.

Bastardo Inglório,

Sem nome ou história.

Como outros tantos sem face, perdidos.

Mas meu sangue clama, se inflama;

E se regozija a cada judeu de sucesso.

Ainda que sequer saiba serem judeus.

A terra santa tão longe está!

Mas minha alma percorre o deserto

Sempre buscando o sabor do manah.

Sou a diáspora de terra e origem

Sou o judeu esquecido e errante

Como outros tantos em terras distantes.

Salvador, 27 de maio de 2012