À...
Quantas dores, tu nem sabias,
Que fervilhava o peito alheio,
Em juntar as débeis melodias
Para enterrá-las ao teu seio
Minha sombra na hora diurna
Foi à luz que te embriagou,
Em cada passo assim taciturna
Por tua alma ela chorou!
Quantos dias, tu nem crias,
Na distância que nos permeia
De meu pesar senão rias
O langor que face me pranteia
Mas toda a dor é o amor,
A semente brotada em fruto
Um leve cismar em rubor
Daquele que morre no luto!
Quantas noites, tu nem vias
Defronte tua face esquálida,
Minh’alma que por fim rias
Vendo-a tão virgem e pálida
Que lábios assim carnudos
Ardiam na febre de um viver,
Calados e enfim como mudos
Estavam prestes a morrer!
Quantos dias, tu nem dirias
Os anos longos passaram,
De meu amor tantas fantasias
As lágrimas nas faces secaram
E porque haveria de sozinha
Caminhar em sua existência?
Poderia voltar a ser minha
Mesmo sem sua inocência!