Burro de carroça, com João Abel Pereira
BURRO DE CARROÇA
V 01
Burro velho cuchilão
Quem foste tu no passado
Não te faltava ração
Foste robusto e zelado
Ardego, macio e troteiro
Gordo, bonito e ligeiro
Como cavalo em giqui,
Hoje esquecido do dono
Ss mãos do triste abandono
Tomando conta de ti.
V 02
Muitas vezes tu andaste
Em longas estradas largas
Mas no teu lombo tombastes
O bruto peso das cargas
A passos lentos andando
Alguem te chicoteando
Sem ligar seu sofrimento
Como um heroi forte e bravo
E tu servindo de escravo
Por um mirrado alimento.
V 03
Teus dias foram passando
Teu dono te esquecendo
A velhice te visitando
E o tempo te distorcendo
Aumentando os teus fracassos
diminuindo os teus passos
E tuas jornadas seguras
A das antigas caminhadas
Te resta as costas manchadas
Das marcas das pisaduras.
V 04
Teu dono está esquecido
Dos teus favores prestados
Tiver velho e desnutrido
Escurece o teu passado
Pra te zelar não se esforça
Mas ainda engancha a carroça
No tronco do teu pescoso
Te falta disposição
Devido a desnutrição
Se conta osso por osso
V 05
hoje tu vive nas ruas
Pelas sombras cuchilando
Se conta as passadas tuas
As mãos do tempo empurrando
Tuas carne se sumiram
As forças diminuiram
Com o peso da idade
Andas tombando e caindo
Tua matéria sentindo
A falta de humanidade
V 06
Tu te conservas calado
Por não saber lamentar
Velho, desistimulado
Quase sem poder andar
A tua magrem é tanta
Se cair não se levanta
Mais sofre com paciência
Talves não esteja notando
Que esta se aproximando
O fim da tua existência.
COPIA DO POETA << CANÁRIO BRANCO>> ZÉ DOCA MA.27/07/1995