IRMÃOS DA ROÇA

GILBERTO BRAZ ALMEIDA

Sou do tempo

em que as lamparinas

cheiravam a cabelos

de crianças chamuscados.

Sou do tempo

em que as noites de pirilampos

ofuscavam o brilho das estrelas

e a relva orvalhada

era uma divindade matinal.

Sou do tempo

em que as romarias de maio,

eram peregrinações calorosas.

Santa Maria!...

Quanta ladainha!...

Muitos dos que oravam fervorosamente

hoje rezam em paz no céu.

Quanto tempo já se passou.

Para onde foram:

Os macacos,

as maritacas,

as jandaias,

os guaches...?

Só restou o sabiá

que ainda canta no galho torto

da última paineira.

Que saudade da roça!

A chuva jorrava nos milharais

que cheiravam a melancia.

Os roceiros se agrupavam

no ranchinho de sapé

a beira do carreadouro

e no ritmo da chuva

bailava a prosa caipira.

As espigas de milho,

bonecas douradas,

também bailarinas

eram acariciadas pelo vento.

Os trovões estremeciam os morros

e a chuva caia suavemente.

Trinta anos já se passaram.

o caminho do morro

não leva mais ao cafezal.

Da laranja rosa mais doce que o mel

não se plantou a última semente.

O sino da capela nunca mais tocou,

ficou mudo o alto-falante...

Meu Deus!

Trinta anos já se passaram.

Ainda sonho com as flores silvestres,

ainda rolo pedras no caminho.

O que foi feito:

da enxada, do machado, da foice...?

As máquinas invadiram os campos,

os minifúndios desapareceram

e os irmãos da roça que eram tão felizes...

Hoje, são miseráveis bóias-frias.

gilbapoeta
Enviado por gilbapoeta em 13/02/2012
Reeditado em 13/02/2012
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