PASSOS TRAVESSOS

DEBRUÇADA NA JANELA DE MINHAS LEMBRANÇAS

VEJO O PASSADO QUE ME SORRI

NUM SORRISO DE CRIANÇA

VEJO UM MENINO CORRENDO

CABELO JOGADO AO VENTO

SEUS PÉS DESCALÇOS FAZENDO RABISCOS NO CHÃO

PASSOS TRAVESSOS,

PEGADAS PROFUNDAS NO MEU CORAÇÃO

ME VEM TÃO PERTO A IMAGEM

QUE POSSO SENTIR EM MEU ROSTO

SAUDOSAS MADEIXAS QUE A BRISA ACARICIA

E EMANA DELAS O HÁLITO FRESCO DA TENRA INFÂNCIA

O PASSADO É UM VÍCIO ATRAENTE

PRENDE A ALMA DA GENTE NUM LAÇO

E LÁ, MUITO BEM ARMADA A CILADA DA MENTE

FAZ PARECER QUE SÃO DOIS BRAÇOS FRANZINOS

APERTANDO-NOS O PEITO NUM ABRAÇO;

NUM ABRAÇO MEIGO DE MENINO

E O QUE É MIRAGEM AFINAL?

E O QUE É REAL?

JÁ NÃO SEI

JÁ NÃO DISTINGUO FORMAS

CABELOS OU VENTO; LAÇO OU BRAÇOS?

SINTO APENAS

E DE TANTO SENTIR CRIO IMAGENS REAIS

O VENTO EM FORMA DE MENINO ME ESTENDE A MÃO

CORRO COM ELE PELOS CAMPOS, PÉS NO CHÃO.

OS CAMINHOS QUE TRILHAMOS SOBRE A MESMA RELVA

NÃO SE ENCONTRAM NO TEMPO

SÃO PASSADOS DISTINTOS

QUE SE FUNDEM NA MENTE POR VEZES

POR OUTRAS SE CONFUNDEM NAS MESMAS PEGADAS

MAS JAMAIS SE CRUZAM

APENAS SE PERFAZEM.

A MESMA HISTÓRIA

COMEÇOS IGUAIS, DESTINOS DIFERENTES

UMA SEGUINDO SUA TRAJETÓRIA

A OUTRA BREVEMENTE INTERROMPIDA

PÁGINAS EM BRANCO QUE O PASSADO DESFOLHA,

DIA APÓS DIA,

NO LIVRO DESBOTADO DA MEMÓRIA.

(escrito em 15 de abril de 2010

dedicado a DAVI)