FELIZ

Eu era o sorriso das manhãs,
A descida alucinada sobre o carrinho de rolimãs,

Eu era a lua escondida entre a enorme paineira,
As estórias contadas em volta da fogueira.

Eu era a água cristalina - a nascente,
O som que ela fazia sobre as pedras divinamente.

Eu era habitat da inocência, da simplicidade,
Um voo isento de responsabilidade.

Eu era a harmonia, a nuança, a dança, o compasso,
O mergulho da pipa cortando espaço.

Eu era o encanto, o canto, o espanto, o clima,
O recorte de revista com a foto da Eva Wilma.

Eu era uma vida moldada pela ternura,
Dentro de uma realidade tão dura.

Eu era as cores do arco-íris, os desenhos de giz,
A sempiterna primavera – ah! como eu era feliz.