VIAGEM

Debruçado sobre o parapeito da ponte, contemplo,
A noite, o rio deslizar com serenidade,
Numa fascinação sem vestígio viajo no tempo,
No reflexo da água, me vejo garoto,
Isento de qualquer responsabilidade,
Que vivia uma vida de lúdica poesia,
Fazia loucuras, pulava das alturas como essa,
Sem segredos, sem medo de nada,
Alma soante, livre, encantada,
Despreocupada com a solidão do porto,
Com o estado das coisas, com a pressa,
Que o mundo adulto determina,
Um garoto que brincava, sonhava...
Falava com as estrelas, acreditava,
Que só o amor prevaleceria.
Movo o olhar, a mudança é repentina,
Retomo o tempo presente,
O eu de agora, reticente... diferente,
Sinto um vertiginoso vazio,
Desejo pular, mergulhar nesse rio,
Como antigamente, gritar, ser inconsequente,
Mas, a lucidez me abraça, me embaça, me domina.



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Debruçado, distraído
sobre a murada da ponte,
eu tinha o olhar dividido
entre a linha do horizonte,
e o azul, fundo,das águas.
Foi por isso que não vi
aquela estrela erradia
que, como tudo na vida,
passou por mim... e perdi.


(HLuna)