Tempos de outrora
A brisa suavizava a face rubra, cansada da lida,
Do mesmo modo tombava grama de capim e as flores do jardim,
As árvores balançavam suas folhas pra lá e pra cá,
O tempo prometia chuva, nuvens escuras no céu.
Ela ainda de avental sentada num banco de madeira na varanda,
Tecendo crochê para o Natal, pintava uma tela real.
O branco da toalha se contrastava com o barrado vermelho já tecido,
A criança miúda mexia nos novelos no cesto de linhas e costura,
O cão corria atrás do pato, que de assas abertas imitava um vôo,
Momento de diversão, de arrancar ingênuos risos, de fluir felicidade
Era a vida se revelando em atos, cenas que hoje estão em relato
A magia às vezes se quebrava com o cheiro de assado da cozinha
Bolo de milho todos os dias, mas a paz e o sorriso continha
O toque na porta sobressaltava, e a pergunta no ar se fazia,
Quem era, era mesmo a comadre que sempre chegava,
Enquanto lanche da tarde acontecia, a água fervia,
As brasas do fogão cozinhavam também o feijão,
A vassoura de mato num canto, na peneira grãos de café,
No pilão compassava o toque que socava o arroz,
A fumaça na chaminé anunciava o gostoso jantar,
O manto da noite cobria o tempo, o lampião vencia a escuridão,
A simplicidade marcava... Tempos de outrora