FUI TER COM O PASSADO...

FUI TER COM O PASSADO...

Fui ter com o passado,

Só para ver, só para crer que inexiste!

Agora, o que era porta ou janela é parede...

Onde havia portão, é vão, que não guarda nada!

Por fora, vejo um alaranjado exuberante,

Que inquieta os meus sentidos,

Tão acostumados á cinzas desbotados...

Por dentro, como estarão as velhas paredes caiadas?

Onde dependuramos, durante tanto tempo,

Com pregos tortos, as nossas histórias...

Que guardavam silenciosamente nossos segredos,

Testemunhas, mudas, das alegrias e das tristezas,

Em nossos olhos...

Onde o perfume de lavanda, sobre o toucador, da velha senhora?

E nossos quartos, onde dormimos e acordamos,

Tantos desejos... Desejos dos mais diversos!

E o aconchego, apertado, de nossa sala!

Onde estarão agora as panelas fumegantes,

Com seus hálitos quentes,

A temperar o ar que respirávamos, com alecrins e salsas?

As massas de farinha e batata, do nhoque dos domingos,

Dos salgados, das coxinhas, dos risoles, para as festas?

Onde se escondem agora, de gulosas crianças,

Os biscoitos de maisena e as brevidades?

Senão, num exercício doido, doído, de memória!

Edvaldo Rosa

11/10/2011

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