Minha Infância
Da minha infância eu me lembro
Que não gostava de pentear os cabelos
Numa cadeira minha mãe me colocava
eu gritava e esperneava
mas ela não me largava
enquanto meus louros cabelos
lisinhos, lisinhos ficassem
Para passear colocava um vestidinho
Com gola de marinheiro
Aquele era o preferido
E também meu domingueiro
Com meus irmãos eu brincava
Já que era uma menina
Entre dois “piá”
Pro mato caçar passarinhos
Eu sempre os acompanhava
Também para tanque de águas
Com eles eu ia
Com medo, ficava só observando
Mas a meninada adorava nadar
Ainda me recordo
dos domingos de missa
era em cima de uma caminhonete
que meu pai nos levava
alegres íamos a cantar
Em frente à igreja
Tinha doces e pipoca
E ao fim da missa rezada
Podíamos saborear
Também um frango assado
Com a família toda reunida
Na casa dos meus pais.
Que delícia de vida era aquela
Hoje bem sei
São tempos preciosos
Que não voltarão jamais
Minha mãe que era evangélica
Para o culto nos levava
E pedia para que não “piassem”
Nada para o meu pai
Nós não contava,
O segredo guardava
Mas à noitinha
Em frente ao fogão
Eu e meu irmão
Nos cumprimentávamos
Com a paz do senhor
Então era que meu pai descobria
Qual fora o nosso passeio do dia
Foram muitas
as brigas e discussões
Até que um dia
Veio a separação
Ainda bem que dos dois
Nós não nos separamos
Pois meu pai à sua maneira
Sempre nos deu atenção
Da minha infância eu me lembro
Do meu primeiro uniforme
Que amarrado na cintura
era um lindo guarda-pó.
Pela família ser muito grande
Com muita dificuldade a gente vivia
De conga um chinela de dedo
Pra escola a gente ia
Na geada branquinha
Brincando de escorregar
Pelo carreiro do Rebesco
Eu tinha medo de passar
Então chorava e muito chorava
Até que de bicicleta
minha irmã me levava.
Na Escola Rural da Lagoa
As professoras me ensinaram
com dedicação
o be-a-bá e outras palavras
Da Cartilha da Alfabetização
Também estudei no Orfanato
Alguns orelhões eu levei lá
Às vezes não fazia as tarefas
Às vezes eu só queria namorar
Da minha mãezinha querida
Com muita tristeza venho recordar
De cabrita por ela era chamada
Só porque na casa não parava
Pois com liberdade fui criada
Um dia na cachoeira
Com a meninada fui pra me banhar
Mas alguém me avisou
Que “ela” vinha vindo
Vesti minha roupa muito ligeiro
E antes dela em casa cheguei
E com duas mudas de roupa
No espaço marcado eu esperei
Para a surra eu receber
Foram muitas as chineladas,
Uma atrás da outra
Mas ao final ainda exclamei
Que não havia doído nada
Então, ainda mais furiosa ela ficou!
Pena que “eles” não estejam presentes
Para ver que com chineladas ou não
Conseguiram me dar educação!