Bebida quente
Cachaça? – desperta graça, fogo, arrepio ao primeiro gole
Comilança, nem sempre fastio...
Batuque no engenho, escravos do Brasil
Feijoada, bebida de pobre, quente ou gelada
Ostra, caju, caranguejo a gôsto, caldo de feijão, limão
Bafo de aguardente, fumaça de brejeiro, capoeira, pensar ligeiro
Cantadô de viola no terreiro! É festa! Êpa! Vamos brincar! beber dançar!
No dia seguinte:
Ressaca, sede, lembrança da morena, era noite sem lua
Tú viu? a nêga casada rapaz, na rede deitada quase nua?
Festa, fogueira, noite fria, férias, padroeira, dor de cabeça, zoeira...
Cana pura! distinta irmã da rapadura
Qual cheiro de carnaúba seca em dia chuvoso
No tonel de madeira a curtida do Cumbe
Na adega do meu avô comerciante, almocreve...
Em 74, ano da cheia, o córrego da Mata alagado
Nas locas pitus e a garrafa meia, enterrada na areia...
Manhãs de domingos, brindes , almoço dos velhos
De Minas ao sertões do nordeste dos cabras da peste...
Aguardente! Que derrubou e derruba tanta gente
Lima Barreto no chão, Vicente Celestino e seu ébrio
Nelson Gonçalves diz cantando que hoje ele é quem paga
E milhares mais no cortejo dos porres opcionais
Tentando atenuar seus ais...
Ah cana sacana! Provocaste fúria, traição, luxúria
Enlouqueceste e perdeste , não sei a quem prestaste favor, socorreste
Oh destilada incolor! Vicias, camuflada em água, qual serpente venenosa
Com o encantamento do verso e a léria da prosa, hipnotizas quem te consome seja bicho seja homem
Mas é sexta-feira e o batuque come solto, chega de lambança de filosofar lembranças, garçom! traz mais uma feiticeira, sem ligar pra da amante a besteira, ela me quer sóbrio e diz querer ser mãe solteira... estou delirando essa é a terceira...
Eu falava de cana, tem tira gosto de queijo, ela é receitada pra tudo
Quanto é bêbado no festejo, antes e depois de tudo e até pro funeral do beijo...