Tempos de Molecagem

Um peteleco na orelha

Por um malfeito flagrado

Um castigo, um beliscão

Por um gesto mais ousado.

O Branco de uma coalhada

O pretume do escuro

Uma paquera na missa

Namoro de pé de muro

O queijo, a raspa do tacho

O meu avô, minha avó

O Voar de Uma Asa Branca

O canto de um Curió.

Uma coberta de algodão

Um chinelinho de dedo

Um arroubo de coragem

Uma pitada de medo

Um tiro de baladeira

Uma pedrada zunindo

Um sai pra lá meninada

Um vem pra dentro menino.

Um timbungar em um poço

A correnteza, o rio

O possuir-se em desejo

De um moleque no cio.

Um bêbado fazendo graça

Moleque correndo atrás

Menina pensa que é moça

Se enxerindo pro rapaz.

Um preto velho descalço

O caminhar na procissão

O repicado do sino

O vigário, o sacristão.

Sermão de todo domingo

Uma beata profana

O debulhar de um rosário

Nossa Sra. Santana.

É meu passado boiando

Nas águas de uma barragem

Sou eu no fundo buscando

Meus tempos de molecagem.

Lembrando do meu passado

Vou cumprindo minha sina

Revivendo e agradecendo

A Seu Raimundo e D. Alcina