SENTADO À BEIRA DA IDADE
Meus sonhos deram espaço as minhas rugas.
Lembro que havia ideias utópicas, pensamentos, buscas, anseios.
Hoje raios em meu corpo se propagam como uma erosão devastadora.
Nos cantos dos olhos, as lágrimas já não correm livres,
Tomam vários caminhos nas rachas presentes em minha face.
E o furor de outros tempos?
A virilidade incandescente das minhas ideias?
Perderam-se... Nas murchas pelancas que me envolvem.
Sim! Fui sonhador, jovem decidido, potente, presente, valente.
Hoje me sacrifico às dores, que o tempo insiste em me fazer gemer.
Açoites na frágil pele velha sacrificada.
Antes de tudo cessar, desligar, se acabar...
Obedeço apenas ao que pequenos comandos cerebrais suplicam.
Então nem rugas, nem miolos em descomando.
Só meus sonhos mortos enterrando minhas rugas de pele morta.
Raízes flácidas no corpo, de um ser de mente sonhadora.