MEU PAI E EU
No teu olhar voltado para o além
Busquei encontrar;
O brilho de outrora.
No rosto rosado de antes
Apenas a palidez,
Transparecia.
Os teus lábios
Que tantas vezes ouvi...
Nem um sussurro emitia.
No corpo inerte
Tentativas vãs
Para a volta
Da vitalidade de antes.
Tentei acordar-te
Porém não me atendias
Falando te chamei
Para o mundo real
Não pude saber
Se me ouvias.
Minhas mãos nas tuas
Procurei transpassar o calor
A vida, que em ti se extinguia
Como num rasgo
Afloraste da tua inconsciência
Levaste as minhas mãos
Ao teu peito amigo
Com esse gesto deste-me forças
Que em ti já não existia
Vislumbrei, pois com isso
Renovaste-me a esperança
De sabê-lo presente comigo.
Voltaste ao torpor de antes,
Sem eu saber
Que naquele instante,
Meu pai de mim se despedia.
No dia seguinte deixaste-me
Mas a certeza do teu amor,
Para sempre na minha vida ficará.
Belém, 22h10
Obra: Gotas