"As noites... La bohème"
"... A noite, nem todos os gatos são pardos.
Nem todos os pardos são gatos.
Nem todos gostam da noite.
A noite, nem todas as feras são belas.
Nem todas as belas são feras.
Nem toda luz é farol.
A noite, nem todos os poetas estão bêbados.
Nem todos os bêbados são poetas.
Nem todo poema é de dor.
A noite, nem todas Mulheres são sereias.
Nem todas as sereias são Mulheres.
Nem todas as esquinas são cais.
A noite, nem todo cafajeste é mocinho.
Nem todo mocinho cafajeste.
Nem toda boate tem néon.
A noite, nem todas as camas são desfeitas.
Nem todas as desfeitas são na cama.
Nem todos os hotéis estão cheios.
A noite, nem todos os becos são escuros.
Nem todos os escuros estão nos becos.
Nem todas as calçadas estão limpas.
A noite, nem todos estão seguros.
Nem todos os seguros são cobertos .
Nem toda segurança é bem vinda.
A noite, nem todos os desejos são libertos.
Nem todos os libertos tem desejos.
Nem toda liberdade é tolerada.
A noite nem todo prazer é carnal.
Nem tudo que é carnal é prazeroso.
Nem todo o prazer é proibido.
A noite nem toda vela é despacho.
Nem todo despacho tem vela.
Nem todo pedido é de Amor.
A noite nem todo mendigo tem sorte.
Nem toda sorte mendiga.
Nenhum malandro zomba da morte.
Na noite..."
("As noites... La bohème",by Carlos Ventura)