A VIDA QUE NASCEU NA RUA


Enquadrada na janela
Te contemplo, minha rua
Um dia já te vi nua
Hoje coberta e calçada
Numa tarde encharcada,
sob uma chuva fina
um filme se descortina
em velhas histórias passadas

jogando de “pé no chão”,
os chinelos eram goleiras
e a roupa coberta de poeira
marcaram em nós cada dia
e o nome dos guris e gurias
que a gente chamava gritando
hoje ficam só ecoando
na lembrança da esquina vazia

Havia tantas maneiras
De passar o dia na rua
E quando era noite de lua
Se inventava o que fazer
Brincando de se esconder
A gente espichava o dia
e só quando o relho caía
é que íamos nos recolher

Ah ! Minha rua, meu mundo
Espaço perdido no tempo
Se o dia amanhecia com vento
A gurizada sabia
Que a pandorga se ergueria
A favor do soprador
E o marimbondo roncador
Gambeteava todo o dia

Com guris sempre brincando
Nunca ficastes solita
Jogo do taco, pião, bolita
Pulavam corda as gurias
Cantigas de roda e gritarias
Enchiam as tardes de inverno
E aquilo que parecia eterno
Perdeu-se ao longo dos dias

Muitos dias se passaram
Com eles também os anos
Amores e desenganos
Passaram a ser os brinquedos
Viste crescer o piazedo.
Foram-se embora os meninos,
Cada um levou no destino
Tua lembrança por segredo.

Hoje coberta de pedra
Continuas palco da vida
Mas quem hoje te convida
Para um outro passa tempo
Viaja num pensamento
De estranha alucinação
Nunca jogou de pé no chão
Nem ergueu pandorga ao vento

E a vida nasceu na rua,
onde construí um caminho.
Com a gurizada ou sozinho
Em dia frio ou noite de lua
Minha alma de piá pura e crua
Perdia-se num sonho criança
Hoje só ficou a lembrança
Do que fomos minha rua.

Nota: Foto do autor

 
Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 22/07/2011
Reeditado em 02/12/2011
Código do texto: T3112650
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