DESTERRO
Vem menino,vem!
Carrega esta mala pesada
De lembranças, recheada!
Ao abri-la deixe sair o passado,
Desenterre as recordações vividas,
Tuas alegrias e teus medos
Guardadas através do tempo:
Imagens saudosas da mãe coando o café,
Que enquanto cortava o pão de milho dizia:
-Vem menino, tomar teu café!
Primeiro leva pro santo,
Depois, toma o teu!
E o menino o saboreava, saciava a fome,
Com a benção de sua mãe.
Vai, menino!Corra pelos campos,
Vive a liberdade, canta feliz!
Não deixa as mágoas te afligirem,
O amor de sua mãe
Compensa os dissabores:
Escuta menino lesma!
Maria te chama lá fora,
Sussurra ao seu ouvido,
Que já é mulher...
Mulher? Replica o menino.
Que bobagem é essa?
Vem comigo menina!
Vamos pegar manga no pé,
Quem chegar por último é mané.
E Maria volta à infância outra vez,
E juntos brincam e brigam
Repartindo as mangas colhidas.
Negociando a partilha,
Maria, a mais esperta,
Sempre ganhando, saía.
E o menino voltando pra casa,
Novas lembranças surgiam.
Olhando o retrato na parede
Revoltado dizia:
Mãe sempre me acarinhou,
Pai, nunca me abraçou!
Lembrava-se das avós
E do que seu avô dizia:
Mãe fica em casa e filho segue pro mundo,
Filho é que nem passarinho...
Cria asas e voa!
Menino homem onde está tua coragem?!
Enfrenta teus medos...
Teu corpo se transforma,
Vai e procura os segredos nos cabarés da vida!
Inicia, oh menino!
Tua fase homem...
O tempo impiedoso e sábio
Transforma o menino.
Suas lembranças carregadas de saudade
Jazem desterradas no silêncio.
Mas dentro do homem menino,
Um coração sofrido grita pela mãe que se foi,
Pela infância que ficou perdida
Entre paredes e cacarecos,
Nas ruínas do passado.
E as lembranças do “menino homem”
Afogadas pelo tempo...
Na mala, retornam guardadas.
06-07-2010
(Poesia inspirada numa peça de teatro itinerante e publicada na Antologia Cidade VII, da Editora Litera Cidade-Belém/PA, na qual tive a honra de participar como co-autora)