Maria-fumaça
Uma maria-fumaça
arrasta-se à minha frente,
esfrega seus pés de ferro
nos trilhos que levam
ao fim do mundo.
Tufos de fumaça
ganham os céus
quando passa
a Maria-fumaça com seus
requebros lentos
para acordar minha infância
misturada a de toda a gente.
Passa a Maria-fumaça
diante dos meus olhos de criança
como uma velha dama enlouquecida,
já sem elegância,
a gritar pelos seus mortos
com sua voz do roçar de ferros
do seu caminhar arrastado.
Grita também por seus loucos
Por aqueles que dormem
Por aqueles que jantam
Pelos insones e por aqueles
que não jantam também,
a cada vez que passa,
a Maria-fumaça.
A minha infância
como a de toda a gente
da minha cidade
que fica a meio caminho
do fim do mundo
deitou-se nos trilhos,
no seu caminho,
e você não mais passou,
Maria-fumaça!