"OS DOIS MENINOS CARREIROS"
-Força Marchante! Puxa Salino!
Convivência marcante na vida de dois meninos
Eram o Fermiano e o Negro
Dois carreiros, dois guris
Atravessando sem medo
Os tabocais e os bacuris
Partindo na madrugada
Dos campos da “Pirapoca”
Passando a velha estrada
Onde a onça tinha toca
Carro de boi era carreta
No linguajar da fronteira
Nossos bois não tinham treta
Eram dois bois de primeira
Esses dois bois elegantes
Puxavam nossos destinos
No lado esquerdo o "Marchante"
E no direito o "Salino"
Com muita ansiedade
A gente contava nos dedos
Porque na próxima viagem
Iriam o Fermiano e o Negro
Nossa mãezinha querida
Caprichava na matula
Entregando na saída
Queijo, bolo e rapadura
Quando a carreta passava
No bairro "Nunca-te-vi"
Nossa viagem cessava
Por duas horas ali
Havia sombra e aguada
Abundantes no lugar
Desviando-se da estrada
Nos forçavam ali parar
Enquanto os bois pastavam
Pasto e água era fartura
Os dois meninos lanchavam
A sua saborosa matula
Com grande felicidade
A viagem prosseguia
Para vender na cidade
O que a lavoura produzia
Ao ninho a dupla voltava
Cumprida estava à missão
O afeto mais e mais solidificava
Na vida dos dois irmãos
Pensando em nosso futuro
Estudos e estabilidade, enfim
Deixamos o trabalho duro
Fomos morar em Jardim
O campo e os animais
Papai teve que vender
A tristeza foi demais
Quando isto fui saber
Que o Marchante e o Salino
Renderam um bom dinheiro
Por ironia do destino
Foram vendidos a um açougueiro
Na alimentação para nossa mesa
Ajudaram-nos por tantos anos
Com suas carnes na ultima proeza
Alimentaram os chamados “Humanos”
Por mim aqueles dois bois
Jamais seriam vendidos
Soltos nos campos os dois
De velhos teriam morrido
Obs: Um abração aos conterrâneos Belavistensses