Mãe, andavas por toda a casa
segredinhos e sorrisos
e meneios de menina
e eu era pequenina
pequenina e espreitava
percebi, senti, sentia
que me iam dar a boneca
Era o Natal... e lá estava!
E era uma boneca linda!
Soube então que era mentira,
o Menino Jesus não vinha
a prenda no sapatinho
era a mãe, a mãe que a dava!
Viveu longamente a boneca
intacta
de cabelo loiro, imagina!
Os olhos abria e fechava
tinha uma blusa branca
e uma saia encarnada
Tu é que foste depressa.
Ficou toda a vida a boneca
com algo de teu que restava
e eu amava, como amava!
Gostou dela a minha filha
pegou-lhe, a tua neta!
Mas meu pai, talvez de raiva
num dia qualquer, na terra
tirou baú, roupas, boneca
e a tua linda trança
envolta em rede fina
... tu há tempo foras,
a trança brilhava ainda
e era da cor da minha!
Aquele homem sem alma,
sem direito nem respeito,
deitou fogo à minha herança:
Uma boneca e uma trança!
12/12/2000