TALVEZ POESIA
(aO Poeta GUIDO PIVA, in memorian)
O inusitado “mocanhês” da tua língua
Tem cheiro e sabor daquela fértil mocitude
A Rua Coronel Bento Pires, ainda
Era macarrônica e de felicidade amiúde.
Tão longe do bairro da “Mooca” nasci
Sou semente que germinou ao relento
Transplantado para o jardim do porvir
Ergui uma selva de ferro e cimento.
Na parede guardo lembranças da revolução
Em amarelecidos fotogramas do passado
São Habitantes do casarão da doce ilusão
Onde gentis moçoilas cultivam amor imigrado.
Tudo era, tudo mudou
A terra, a vegetação, o ar,
A praça, a rua, o cortiço
O dedo de prosa na mesa de bar.
Hoje, sou passarinho na gaiola
Sem trino, sem rumo ou direção
O futuro definha na fragrância da cola
Aconchego apartado na construção.
Nas patas do caminhão corre o progresso
Banhando o azul anil de fuligem cinza
A Mooca escreve seu protesto
Em prosas, versos e rimas do GUIDO PIVA.