SOMOS UMA COLCHA DE RETALHOS
Antes de sermos colcha fomos uma fazenda
Composta dos mais refinados tecidos
De algodão, de seda... sintético
Tingidos nas mais variadas matizes
Desfragmentaram-nos em pequenos pedaços
Chamando-nos de retalhos
Pensando que com isto nos injuriava
Não! Para nós era elogio
Éramos um grande cesto de cortes de pano
Ali no balaio existíamos individualmente
Se você era um pedaço feio
Para não deixá-la triste, eu idem
Cozeram-nos com fios de ouro
Formamos uma imensa colcha de retalhos
Agora os dois juntinhos... Lindos!
De retalho em retalho... A vida!
Se eu sou o quadradinho da certeza
Você é o lozango da esperança
Somos emendados perfazendo o todo
A compreensão ligada à paciência
A sabedoria colada à experiência
Um elo de paz atado a outro de fé
Abraços atrelados à sorrisos
Alegria enlinhavada à saudade
Somos os desejos construindo os prazeres
Pois você é o amor costurado aos beijos
E eu sou a amizade cerzida à justiça
Se tentarem destruir a colcha
Só conseguirão separarem os pedaços
Onde aparecerão os rasgados e buracos
Restar-nos-ão as lembranças
Da colcha de retalhos
(fevereiro/1984)