Poeminha singelo de meia tijela
Quando mostrava nos dedos
Minha idade de magia,
Lembro do sol nos brinquedos,
do calor e da alegria
Logo depois que chovia.
Inda trago na lembrança
Os quintais e a vizinhança
E os colos e sobressaltos
Do que quer e não alcança
Em cima dos móveis altos.
Qualquer desobediência
Era um enorme pecado
Despertava impaciência
E um senso de consciência
De ter feito algo de errado.
Quando o assoalho rangia
Quase tudo estremecia
Dentro da cristaleira
Como um susto que arrepia
Correndo na espinha inteira.
A sala era todo um mundo
De paredes com retratos,
A mesa posta com pratos
E o relógio cuco ao fundo
Deixando o tempo profundo.
Já não me encontro se fujo
Do menino que fui antes,
Vestidinho de marujo,
Que ouvia num caramujo
O som de praias distantes.