Lua Cheia De Sombra & Cinzas
O siroco sopra sobre a mente mediterrânea
Déjà-vu esse eclipse dez, centenas de vezes
A lua cheia influência da sombra da Terra
Cinza. Do Sol o observador vê a Lua atrás
Da Terra. Aqui, ali, em todos os lugares eis
Ela cheia de graça num doce balanço em
Todos os continentes frios e quentes.
Quando haverá o próximo eclipse? Ah
Vou dá um tapinha na borda sempre
Circular nesse eclipse total, lunar. Ah!
Tapinha não dói. Ah, essa borda esférica
Redonda sobre os largos horizontes sobre
A maré de todas essas ondas. Esse vem-e-vai
Demais! Preciso duplicar-me em tempo
Tempo de vida. Quantos eclipses e solstícios
De passagem ao longo da memória dessa
Doutras vivas lunas, lunares, solícitos
Sorrisos Solaris. Aquela lua de passagem
Naquela constelação. Viagem através dos
Pés. Trêmulos. Perplexos. Passos protegidos
Carnes queimando ao pisotear esse chão de
Gelo. Quem motiva esse caminhar, senão
Esse rebolado lunar a conduzir em minha
Frente uma criança de colo. Há 4 milhões
De anos. Nanoquânticos. Hominídeo extrativista
Momentos memoriais além dessas vidas
O medo dela, Luna, desaparecer nessas cinzas
Cair ajoelhada sobre esses blocos brancos
Sobre essas geleiras. A precariedade da pele
Ossos aquecendo os próximos passos
Distantes oceanias do outro lado desse
Estreito. A corrente inocente dessa diamantina
Guia a criança apavorada meio dormindo
O apetite congelado no desafio desse eclipse
Memorial entre centenas de paisagens, a
Geologia do Gólgota: dedos intumecidos
Vagando entre edifícios de gentes em busca
Da visão mágica noutra era ida. Nem sabe
Estar a visualizar esse futuro remoto. Ido
Compasso passado. Milênios sentimentos
Não narrados nesse olhar projétil de luz
Em direção lunar. Busca pela janela outra
Vez vivenciar nesse olhar fugidio da novela
Estacionado na memória fálica do sofá
O pai e a mãe do tempo da sala de jantar
Gerações de sonhos sem nenhuma mínima
Realidade. A buscar essa outra qualidade
A memória, parte dessa paisagem ida, lunar
As pirâmides, os eclipses, as madrugadas
A vida imemorial refletida no quarto
Desenho de uma inexistência intensa:
Américas, Austrália, Pacífico, Europa, Ásia
Madrugada: 21 de dezembro de 2010.