Ainda Sou Criança

Mãe, por que a senhora me bateu? Só quis diversão.
Banhar no córrego, fazer bonecos de argila, bater
Uma ‘pelada’, ser criança.

Mãe, não quero estudar! Só quero brincar, sonhar, voar,
Roubar jabuticaba, araticum... Ser criança.

Mãe, deixe-me dormir mais, ainda é cedo, está
Escuro, tenho sono, está chovendo – sou criança.

Mãe, eu machuquei o meu melhor amigo, o Joãozinho,
No futebol. Não posso ir pra casa agora, não quero
Apanhar. Estou escondido de mim, de você,
Da verdade, da criança.

Mãe, não deixe o doce no fogo se queimar!
Estás cansada, nervosa, abatida, preocupada;
Vou ajudar a engrossar a calda, adoçar a criança.

Mãe, que almoço é esse? Arroz branquinho, chuchu verdinho;
Abençoado suor do meu pai. Nada de carinho,
Por vergonha, não precisa chorar!
Homem não chora,
Apenas as crianças.

Mãe, posso misturar farinha no leite e açucarar?
Hoje é meu aniversário, posso?
Não brigue comigo, vou obedecer, não vou mexer,
Ainda sou criança.

Mãe, não aguento tanto peso nas costas,
Sou pequeno, não consigo erguer a lata, a cabeça.
Meu pai, não me bata, vou tentar novamente,
Sou criança.

Mãe, hoje quero colo, cadê meu pai?
Tenho fome, sinto frio, agora posso brincar,
Mas não tenho amigos. Tenho força, mas eu cresci.
Aonde está a criança que virou homem feito?

Mãe, estou com medo, fiquei só, venha me dar
Amor, me ajudar a ser bom!

Obrigado, por tudo meu pai! Sua benção,
Minha mãe!

                             
Edir Gonçalves
                           egpoesias@hotmail.com

EDIR GONÇALVES
Enviado por EDIR GONÇALVES em 30/11/2010
Reeditado em 04/12/2021
Código do texto: T2644706
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