LEMBRANÇAS DE FAISQUEIRA V

(Faisqueira, vila de Ubaitaba/BA

Fatos acontecidos na minha infância e primeiros anos da minha juventude, sem ordem cronológica)

(continuação)

41

Um jipe já usado, o Hemetério comprou.

Até então, de burro ele se deslocava.

Tudo ficou mais perto e o Hemetério gostou.

- Carro é que é bicho bom, dizia quando andava.

Não levou muito tempo e o jipe capotou,

por sorte não matando o povo que viajava.

Quando ficou sabendo, ele ficou casmurro

e consigo pensando: - É, bicho bom é burro. (23/12/1998)

42

Com o jipe do seu pai, o Manoel Hemetério,

Gilberto foi de frete a Maraú levar

um idoso casal, vivendo o climatério.

Na ladeira do cais viu o freio faltar.

Estava alta a maré. O acidente foi sério.

Gilberto respirou. O casal não teve ar.

- Você cobrou o frete? Indagou-lhe o seu pai.

E ele então respondeu: - Não deu tempo papai. (23/12/1998)

43

Edno gangorra armou lá dentro do curral.

À frente lama funda e cheia de excrementos.

Atrás solo coberto e duro por sinal.

Valquíria com seu fogo embalou-se entre ventos.

A corda estava fraca e não firmou o pau.

Valquíria despencou findando os movimentos.

Foi feliz em não ter caído na traseira

Na nojeira afundou, apagando a fogueira. (22/02/1999)

44

Fazenda Boa União, lembro-me muito bem.

Jenipapo maduro em brejo despencava,

todavia apanhá-lo existia um porém:

ou doava-se sangue ou nada se apanhava.

Mas o fruto era bom e sempre havia quem

de sanguessugas pouco ou nada se importava.

Um deles era eu mesmo, armado com limão

para ao sair do brejo acabar a sucção. (08/02/2001)

45

Osvaldo era um garoto bastante sagaz.

Os casos seus eram repletos de mentiras

e em razão disso no comércio era eficaz.

Entre outros peixes ele vendia traíras.

O seu pai, o Ramiro, pescador feraz,

fazia as enfiadas certas com embiras.

Osvaldo do comércio ainda está vivendo

e as mentiras também continua dizendo. (12/03/2006)

46

O Antonio Lemos tinha um crânio como um bode.

Quebrar nele um cacau maduro era moleza.

Essa façanha não é qualquer um que pode,

por isso ele se achava um ás nessa proeza.

Desafiar alguém era para ele um pagode.

Nessa sua ação só tinha selvatiqueza,

mormente pra quem tinha uma grande careca.

Só a velhice fez ele levar a breca. (20/11/2006)

47

Cabeça de Bagre era a alcunha de um servil.

Era chamado assim porque era bem careca.

Seu cérebro jamais foi bom, era baldio

sob um crânio durão, de agüentar peteleca,

onde cacau maduro ele neste partiu

mil vezes sem sentir dor ou levar a breca.

Ele fazia assim pra mostrar que era macho,

mas o pobre jamais foi além de capacho. (21/11/2006)

Almir Câmara
Enviado por Almir Câmara em 17/11/2010
Código do texto: T2621654
Classificação de conteúdo: seguro