Procissão rio abaixo...
Na vida às vezes o lembrar,
só refaz no peito régio
o rêgo reles da saudade,
onde a dor reside em sacrilégio.
E eu fico a meditar profundo
na procela da alma em oblação,
o coração hiante e ferido
pela incúria da lembrança louca.
Mas lembro no rio Parnaíba
a procissão em confluência,
descendo rio a baixo a exultar
no encontro final na catedral.
Dia de São Pedro e o foguetório
já no lindo flavo pôr-do-sol,
ao ouvir ficava em frenesi
e corria para a beira do meu rio.
Ali via as lanchas, as canoas,
nos barcos alindados as pessoas,
que no afam de louvar na festa,
nas traiçoeiras águas se lançavam.
Horas após eu ficava a ouvir distante,
lá depois do encontro dos meus rios,
que abraçados, rios Poty e Parnaíba,
assistiam a festa, no bairro Poty Velho.
Oh! Até onde vai o pensamento?
Nas entranhas peripécias de criança.
Quando o tempo não fazia diferença,
se era manhã, tarde ou noite da vida.
Hoje, muito distante da minha terra,
e mais ainda do tempo... Já não ouço mais.
Mas prefiro a loucura da lembrança boa,
do que a amargura cruel da saudade má.