O Rio Sem Destino
Um rio largo, matreiro
Mata quem o desafia no braço
De cima, um traço; no meio um compasso
Água que corre sem parceiro
Que corta o norte e o sul em aguaceiro
Que tem no mar seu paradeiro
Que faz da terra o seu regaço.
Rio que segue a via sem destino
Que embebe cidades e lugarejos
Rio que alegra o campesino
Estrada de água dos sertanejos.
Alegria que nasce de hora-em-hora
Que brota de um pingo e vai-se embora.
Senhor! Que más noticias nos trazes?
Sei que passastes por terras diversas
Que ouvistes tantas e tantas conversas
Por que tuas ondas estão vorazes?
Sei que és calmo e caudaloso
Com tanta força que tens no corpo
Por que então não te fazes bondoso?
Deita o teu mau em pleno orco!
E com um esplendor primaveril
O rio, com orgulho e vaidade,
Deixou água em abundância
Encheu represa, fontes e barril
Mostrou a quem vive na cidade
Que mais vale a tolerância
Que o amor com falsidade.