Um violeiro na beira da calçada
Talvez seja apenas aquela melodia
Que ouvi perto do meio dia
Na beira da calçada
Um violeiro cantava
Com os seus dedos ponteava a sua viola
Sua voz embargada de emoção
Levou-me pelos caminhos do coração
Eu não via mais o vai-e-vem dos carros
Nem o movimento afoito dos pedestres
Eu via um caminho estreito de chão batido
Que me levava por entre os calipeiros
De folhas secas pelo frio das geadas
Até o rancho da porteira quebrada
Eu queria me redimir do pecado
De ter abandonado aqueles momentos de felicidades campesinas
Por uma simples passagem pelo progresso da cidade
Pedir perdão pela rendição da minha alma aos encantos das luzes da cidade
Onde vivo da magia, dos encantos, que na verdade se resumem
Como fantasias das minhas vaidades
Acrescentam-me egoísmos e falsidades
Longas conversas vazias, Assuntos fúteis, notícias tristes, previsões pessimistas.
Alimento as vaidades dos outros
E me alimento dos outros na minha vaidade
Crio os meus sonhos de consumo
Onde cada vez fico mais pobre
Porque nada basta
Quando a nossa alma é vazia
Lá longe era minha alma que ponteava
Quando via surgir por dentre os montes
A lua prateada que fazia brilhar o caminho
Além da porteira quebrada
E ali mesmo se criaram os meus sonhos de menino
Que se escondiam na sombra
Que se banhavam no sereno da madrugada
E na querência dos meus sonhos
Passei a porteira quebrada
e aqui cheguei
Hoje a distância é tanta
Que nunca mais voltarei
Por isso quando o violeiro
Na beira da calçada
Leva sua mão ao rosto
E disfarçadamente
Com um lenço branco
Enxuga as suas lágrimas
Eu estranho
Porque nem lenço eu uso mais
Minhas lágrimas são secas
Choradas pelo coração