Um violeiro na beira da calçada

Talvez seja apenas aquela melodia

Que ouvi perto do meio dia

Na beira da calçada

Um violeiro cantava

Com os seus dedos ponteava a sua viola

Sua voz embargada de emoção

Levou-me pelos caminhos do coração

Eu não via mais o vai-e-vem dos carros

Nem o movimento afoito dos pedestres

Eu via um caminho estreito de chão batido

Que me levava por entre os calipeiros

De folhas secas pelo frio das geadas

Até o rancho da porteira quebrada

Eu queria me redimir do pecado

De ter abandonado aqueles momentos de felicidades campesinas

Por uma simples passagem pelo progresso da cidade

Pedir perdão pela rendição da minha alma aos encantos das luzes da cidade

Onde vivo da magia, dos encantos, que na verdade se resumem

Como fantasias das minhas vaidades

Acrescentam-me egoísmos e falsidades

Longas conversas vazias, Assuntos fúteis, notícias tristes, previsões pessimistas.

Alimento as vaidades dos outros

E me alimento dos outros na minha vaidade

Crio os meus sonhos de consumo

Onde cada vez fico mais pobre

Porque nada basta

Quando a nossa alma é vazia

Lá longe era minha alma que ponteava

Quando via surgir por dentre os montes

A lua prateada que fazia brilhar o caminho

Além da porteira quebrada

E ali mesmo se criaram os meus sonhos de menino

Que se escondiam na sombra

Que se banhavam no sereno da madrugada

E na querência dos meus sonhos

Passei a porteira quebrada

e aqui cheguei

Hoje a distância é tanta

Que nunca mais voltarei

Por isso quando o violeiro

Na beira da calçada

Leva sua mão ao rosto

E disfarçadamente

Com um lenço branco

Enxuga as suas lágrimas

Eu estranho

Porque nem lenço eu uso mais

Minhas lágrimas são secas

Choradas pelo coração

Robertson
Enviado por Robertson em 03/11/2010
Reeditado em 03/11/2010
Código do texto: T2594229