Saudade natural
A entrada de nossa vila
era charmosa e fragrante
parecia dar boas-vindas
a todos os visitantes.
As cercas de quebra-facão
adornadas de são-caetano
com seus frutos amarelos
e suas tranças fechadas
eram convite perfeito
esconderijo da criançada.
Do outro lado da estrada
bonina a desabrochar
perfumando toda a rua
doce aroma a exalar.
Eu cá pensava comigo:
"Que disputa sem igual,
de um lado o são-caetano,
do outro, o boninal".
Saudosa me encontro agora
dos cheiros que ali senti
das limeiras de minha avó,
dos doces de buriti,
daquelas manguinhas pé-duras
e das pitangueiras em flor,
ai, que saudade eu sinto
do quintal de meu avô.
Os algodoeiros carregados
Colhidos pelos meninos
Do som familiar dos bilros
Nas mãos ágeis de vó Mira
E seus bordados de linho.
Foi dela que herdei o gosto
Pelo artesanato cedinho.
Por aqui a flora rica
de cores, cheiros e sabores
jabuticaba, umbu, mangaba
pinha-do-mato, boquinha-doce,
há também o jatobá
e o coco licuri,
mas dos cheiros, o mais marcante
é do pé de eucalipto
mais alto que eu já vi.
Ele ainda existe na fazenda
da Lagoa de Piroca
lugar sagrado da infância
cuja lembrança me toca.
As emoções mais autênticas
naquele recanto vivi,
lá eu estive em família
do jeito que sempre quis,
era onde tinha meu pai
mais próximo e mais feliz.
Quem tem um pai dividido
sabe do meu sentimento
não tê-lo quando se quer
é para o filho um tormento,
mas a lacuna acabava
nas férias de fim de ano
quando íamos pra fazenda
de mala, cuia e panos
e com ele dividíamos
em paz aquele recanto.
Se eu tiver que indicar
minha época mais feliz
não resta sombra de dúvida
foi lá onde eu vivi.
Lagoa de Piroca, minha linda
Deus abençoe o teu chão,
ali enterrei meu umbigo
tu moras no meu coração.