MAPA-MÚNDI
Num banco da varanda
O velho enrola o cigarro de palha
Solene como quem ensaia
O último ato de sua vida.
Quando eu era menino
Costumava me debruçar
Sobre o mapa-múndi
Na mesa da copa
Dali viajando sem medo
Por países exóticos
E até descobrindo outros.
Decorava os nomes das capitais
Dos rios e das montanhas
Repetidos qual fossem orações
Depois ia comer escondido
As quitandas que mamãe guardava
No alto do guarda-louça.
Bucareste, Cairo, Dublin
'Seu' Moço, antes de voltar pra casa
Me deixe numa cidade daquelas
Com nome gostoso de se mastigar
Banhadas pelo sol e o mar do Caribe.
Se algum dia eu morresse
Que se tivesse de encher a boca pra dizer
Que morri em Tegucigalpa
Que morri em Paramaribo
Que morri em Maracaibo
Que morri.
NOTA: Dava uma ajeitada nos livros, quando esbarrei em “Poemas” de W. B. Yeats; a página de ‘A Prayer for my Son’ vinha marcada com o quarto de uma folha de caderno, onde - desavergonhadamente - eu rabiscara versos; e como outro poeta aprendiz qualquer, dali pesquei Mapa-múndi na fonte! Excuse-me, William Butler Yeats. (BD - 1987).