MAPA-MÚNDI

Num banco da varanda

O velho enrola o cigarro de palha

Solene como quem ensaia

O último ato de sua vida.

Quando eu era menino

Costumava me debruçar

Sobre o mapa-múndi

Na mesa da copa

Dali viajando sem medo

Por países exóticos

E até descobrindo outros.

Decorava os nomes das capitais

Dos rios e das montanhas

Repetidos qual fossem orações

Depois ia comer escondido

As quitandas que mamãe guardava

No alto do guarda-louça.

Bucareste, Cairo, Dublin

'Seu' Moço, antes de voltar pra casa

Me deixe numa cidade daquelas

Com nome gostoso de se mastigar

Banhadas pelo sol e o mar do Caribe.

Se algum dia eu morresse

Que se tivesse de encher a boca pra dizer

Que morri em Tegucigalpa

Que morri em Paramaribo

Que morri em Maracaibo

Que morri.

NOTA: Dava uma ajeitada nos livros, quando esbarrei em “Poemas” de W. B. Yeats; a página de ‘A Prayer for my Son’ vinha marcada com o quarto de uma folha de caderno, onde - desavergonhadamente - eu rabiscara versos; e como outro poeta aprendiz qualquer, dali pesquei Mapa-múndi na fonte! Excuse-me, William Butler Yeats. (BD - 1987).

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 15/10/2010
Reeditado em 04/04/2011
Código do texto: T2558045