A PINGA E A PIMENTA
Boa comida que se preze
Nos faz sair da mesa
Com pesar de não poder
Mais um bocado comer.
E como um bom mineiro
Tenho esse pesar todo dia
A patroa faz boa comida
Dá gosto suas iguarias.
O dia em que temos angu à mesa
Frango caldeado ou vaca atolada
Até mesmo um bom caldo de fava
Tudo fica melhor se apimentada.
Pimenta vermelha, rosada
Branca, roxinha ou cumari
Bode, biquinho ou godê
Malagueta e dedo de moça.
Dá diferença em qualquer refeição
Um ardidinho de bem querer
Trás um paladar mui agradável
Um sabor que não deixa esquecer.
Em tempos de frio ela esquenta
Para outros a mágoa acalenta
E pra mim ela abre o apetite
Na hora de comer o que é bom
Falo de cachaça, a pinga “marvada”
Branquinha, água ardente de cana
Água que passarinho não bebe
Vários nomes dão quem a ama.
Um cheirinho que agrada
Até mesmo que não a bebe
E um sabor que nem se fala
Abre o apetite e relaxa.
Mas sorve-la exige cuidado
Porque uma vez embriagado
Ela perde todo seu encanto
Em vez de prazer traz quebranto.
Em poucas dosagens é remédio
Alegra, anima e desemburra
Apura o paladar de quem degusta
Da mais simples à grã-fina iguaria.
“Quemorzinho” na garganta desce
Bebida pura que sorvida atiça
A barriga com “fominha” manhosa
Apetite gostoso que vem na dose.
Qualquer refeição complementam
Estas duas boas companhias
Por isso tenho sempre comigo
A pimenta e uma boa caninha.