Esconderijo
Enquanto inerte olhava penetrante
As cores e os sons daquele recanto
De saudades e algumas recordações
Via-lhe brotar flores e horrores
Tomadas em um gole apenas
E naquele quarto de tantas noites
De desejos correntes gélidos pelas vísceras
De imensidões de vinho tinto
Aguardava quieta o silêncio
Que cobria agora o corpo morto
Naquele único lugar de esconderijo
Onde falavam em voz baixa todos os móveis
Sobrevivia uma inesperada vontade
De afundar nas profundezas
Daquele baú de noite e dia
Uma vez ou outra pousavam
Encostavam-se ao vidro da janela
Em silêncio permaneciam e induziam
A perceber que quase sutil
O vento, ouvia inúmeras confidencias
Era o paraíso sagrado da sobrevivência
Onde viviam e morriam pensamentos
Que recalcados e segregados
Escondiam-se embaixo das cobertas
Para que ninguém nunca os soubesse