Candomblé na Ingá

No meu tempo de menino

Todo ano era sagrado

O nosso retorno amado

Às terras da Ingá

Lugar sereno e sombrio

Terra de herdeiros

Deixadas por nossos avós

Em meio à mata de cacau

Iamos todos

Primos, tios, tias, parentes

Para cantar, rezar, trabalhar

Na festa do Caruru

Nos batuques do candomblé

Meus tios afinavam os tambores

Minhas tias limpavam as quartinhas

Preparavam o caramanchão

Pra logo a noite fazer a louvação

Mulheres vestidas de banco

Com muitas missangas e anéis

Rodilhas de panos à cabeça

Ao pino do sol vespertino

No estouro do rojão

Chamando os crentes

Para festejar a obrigação

Era bonito ver a criançada

Comendo de mão ao chão

Na mesa de Cosme e Damião

Em nossa crença cabocla

Logo que o caruru acabava

Chegava a hora da folia

Com reza de terço e zuelas

Fiéis em circulo a cantar

Saudavam então os orixás

Passava a noite inteirinha

Tambores sempre a rufar

Entre a poeira e o incenso

Orixás chegavam ao terreiro

Ao romper da aurora

Bem antes do despertar

Saudavam a Oxalá

Agradecidos cantavam

“Acende a luz Maria

Que não mandei apagar

Acende a luz de Deus

Para nos clarear”

Por mais uma vez

Nesta mente esquecida

Recordo parte de minha vida

Na velha fazenda

Hoje Ingá esquecida!