VELHO CARRO DE BOIS
Com o meu canto rangias
Fosse um cello em delírio,
Eras tu só agonias
Em dois rastos de martírio.
Cruzávamos sangas, rios,
Pra suprir os alimentos,
Em meus tristes assovios
Iam cargas de lamentos.
Pelas escarpas do morro
Serpenteando ladeiras,
Carro, eu e o cachorro,
Espremidos pelas beiras.
Pedras, troncos, atoleiros,
Não te faziam parar,
Os teus bois eram ligeiros
E os mais fortes do lugar.
O teu canto sustenido
Era dor que tu sentias
O teu eixo carcomido
Era brasa que ardia.
No pescoço do muchacho
Tu deitavas pra dormir,
E sonhavas morro abaixo
Tua roda se partir.
Os teus rastos paralelos
Estreitavam na distância,
Como eu estreito os elos
Do meu tempo de criança.
O meu coração dispara
Quando vem à minha mente,
Dentro à ceva de taquara
Meu beijinho adolescente.
Tu repousas como história
Junto a um tronco, quase lixo,
Já não tens mais tua glória
Mas me lembras um cambicho.