VELHO CARRO DE BOIS

Com o meu canto rangias

Fosse um cello em delírio,

Eras tu só agonias

Em dois rastos de martírio.

Cruzávamos sangas, rios,

Pra suprir os alimentos,

Em meus tristes assovios

Iam cargas de lamentos.

Pelas escarpas do morro

Serpenteando ladeiras,

Carro, eu e o cachorro,

Espremidos pelas beiras.

Pedras, troncos, atoleiros,

Não te faziam parar,

Os teus bois eram ligeiros

E os mais fortes do lugar.

O teu canto sustenido

Era dor que tu sentias

O teu eixo carcomido

Era brasa que ardia.

No pescoço do muchacho

Tu deitavas pra dormir,

E sonhavas morro abaixo

Tua roda se partir.

Os teus rastos paralelos

Estreitavam na distância,

Como eu estreito os elos

Do meu tempo de criança.

O meu coração dispara

Quando vem à minha mente,

Dentro à ceva de taquara

Meu beijinho adolescente.

Tu repousas como história

Junto a um tronco, quase lixo,

Já não tens mais tua glória

Mas me lembras um cambicho.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 03/09/2010
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