Angélica
Numa tarde de outono,
Não sei bem qual o mês,
Chegando da roça
Vi. - ou será que era um sonho?
Delicadeza de corça,
Seus olhos de sono
Segredos guardavam.
Talhe de princesa, negros cabelos anelados,
Cascatas formavam
Tua nuca encobrindo.
Perdi-me de vez – ao te olhar de viés:
Tu me estavas sorrindo.
Nem por príncipe me tinha.
Um sapo? Quiçá.
De tua boca, música me vinha
Assaltando-me em ondas.
Amar-te? Que idéia mais louca!
- Não tens em que mais pensar?
Caminhos diferentes na vida tu tinhas.
Não sei mais onde andas;
Nem mesmo de mim tomo tino.
Os amores do Homem,
Não importa o rumo que tomem;
Não os olvida o Menino.
Perfumada pelo cheiro doce do cajá, Angélica tomou conta de meus dezessete anos. Hoje, falo dela, ainda embevecido pelo lembrar de sua beleza rústica de camponesa.
Vale do Paraíba, Novembro de 2008