Lembra-me a minha memória

Lembra-me a minha memória,

Daquele dia em que te conheci,

Fim de mês de fevereiro,

Inicio do mês de março,

Ao findar dos anos 70,

Iniciar dos anos 80,

Eu ali magrinho,

Alegre, zuando rebelde,

Irrequieto, irreverente,

Jovem na flor da idade,

Cabeludo encaracolado,

Jogando tênis de mesa,

O famoso ping-pong,

No diretório da faculdade,

A coisa séria era brincadeira,

Brincadeira de criança,

Rapazes e moças,

Todos de cabeça virada,

Uns com os outros,

Estudos e namoros,

Tudo a mesma coisa,

Alguns compenetrados,

Outros nem tanto,

Meninas sérias, de família,

Outras de famílias nada sérias,

Padrões a serem quebrados,

Rigidez de criação, um pé no saco,

De coisa séria a putaria,

Um segundo só,

Verdadeira festa de pensamentos,

Comportamentos, desilusões,

De campos de estudos e formação,

A campo de concentração,

Para uns ditadura, para outros uma pintura,

Para uns religião, para outros prostituição,

Para mim uma chance de ser cidadão,

Alguns eram tidos como viados,

Outros machões,

Algumas meninas para casar,

Outras para se formar,

Mas a maioria queria mesmo era sacanear,

Mas também tinham os garanhões,

E algumas galinhas a dar mais que chuchu em cerca,

Mas que mantinham a reputação,

De família nobre a comprar machos para transar,

Era uma festa, festa da educação,

Às vezes verdadeira marginalização,

Preconceitos era preceito,

Até conceitos de admiração,

Havia ricos, pobres,

Brancos e negros,

Amarelos e vermelhos,

Mas a maioria queria apenas um canudo,

Não uma profissão,

Para os pais se orgulharem de um doutor familiar,

Professores corretos, outros incorretos,

Alguns até honestos, outros charlatões,

Salas de TV, sala de jogos,

Cantina e jogatina.

Da sexta pra sábado sambão,

Para levantar fundos para a organização,

Tom Zé fugido de Sampa e da policia,

Fazendo show sentado no chão,

Tocando violão e musicas rebeldes,

Outras não e a cerveja na mão,

Bêbado, chapado, mas um cantador,

Das verdades urbanas e do sertão,

Entre outros rebeldes sem causa,

Edu Lobo, Caetano, Gil, Chico,

Todos deitando falação,

Metendo a boca na ditadura,

Sem dentadura, não entendia nada não,

Como militar nada fazia, eu zuava então,

Todos cuspindo no prato que comia,

Tomando porradas e chicotadas,

Dormindo em porões,

Acobertados pelas burguesia,

Que eram suas próprias famílias.

Vida boa, vida loca, vida do meu interiorzão,

Vivi assim durante muito tempo,

Me achando de diploma na mão,

Mas aprendi as duras penas na vida,

Que canudo não te transforma em doutorzão,

Suei a camisa, varri o chão onde o diabo passou,

Comi o pão que ele pisou,

Fiz de tudo, limpei muita coisa,

Lavei pratos, lavei roupa, limpei chão,

Fui metido, nojento e mal criado,

Mas nunca cheirei, nem fui drogado,

Muito menos me tornei viado,

Nem fui ladrão,

Inventei, errei, me livrei,

Fui estigmatizado, crucificado,

Depois reconhecido, glorificado,

Plantei arvores, fiz filhos,

Me ferrei, mas cresci,

Escrevi livros, fui pedreiro,

Fiz de tudo um pouco,

Morei na rua, guardei carros,

Eletricista fui, encanador também,

Construí casas, pintor e como pintei,

Pintei uma, duas o sete também,

Fui religioso, coroinha de igreja,

Vinhos do padre bebi,

Também apanhei,

Mas também bati,

Fui preso e prendi,

Fui ator, cenógrafo, iluminador,

Alguns me têm como grosso,

Até já me chamaram de mentiroso,

Outros uma boa pessoa,

Tomei banho em lagos,

Cortei cabelos de pessoas,

Chorei e como sorri,

Nadei em rios, mares,

Fingi ser ator e teatro fui em pessoa,

Mas nunca soube se era uma comédia,

Um drama ou uma ópera,

Fui e estive em diversos lugares,

Participei de várias religiões,

Fui um bêbado, um folgado,

Trabalhador e zombador,

Fiz algumas obras e obrei,

Aprendi ser franco e direto,

Burlar a minha timidez,

Não sei se cresci,

Mas aprendi a ser feliz,

Fiz juramentos, casamentos,

Mas do que fiz nunca me arrependi,

Processei, fui processado,

Mas nunca um magoado,

Fiz o que fiz e faço o que faço,

Por amor, por acreditar,

Já me fiz de esquecido,

E esquecido fui,

Lembrei-me de muitos por estes anos passados,

Mas também fui lembrado,

Amei e fui amado,

Odiei e fui odiado,

Fui criado e criei,

Ao certo não sei o que criei,

Mas com certeza sobrevivi,

As intempéries do tempo,

Da vida mal ou bem vivida não sei,

Algumas coisas já me esqueci,

Mas fui relembrado pela memória,

De muitos e pela minha própria,

Já tive carros, motos, bicicletas,

Já fui idiota, já fui atleta,

Fiz boa história, más histórias,

Boa e má fama,

Me deitei na cama,

Passei frio, passei fome,

Tive sede e bebi da chuva,

Tive frio e me aqueci,

Em caixas de geladeira e papelão,

Comprei e não paguei,

Paguei e não levei,

Tudo há seu tempo e espaço,

Escrevi poemas, contos,

Verdades e mentiras,

Escrevi em papel sem linhas,

Em papel de pão no fogão da cozinha,

Fui roubado mas não roubei,

Mas meu livro escrevi, editei,

E de muitos me zombei,

Eu me realizei,

Amigos já tive muitos,

Colegas perdi a conta,

Andei, transei,

Mulheres nunca tive uma,

Nunca possuí nenhuma,

Mas me casei, me separei,

Nunca fui dono de nada,

E nem sou e nem quero ser,

Nem quero ter,

Pois aprendi que daqui,

Não levo nada pra ali,

Eu adoro amar, ser feliz,

Já tive dinheiro, já tive mulheres,

Compartilhei calor, corpos,

E outras coisas mais com o sexo oposto,

Não posso esquecer que viajei,

No papel, na imaginação,

Para todo o globo,

De carro, moto, caminhão,

Atravessei mares, oceanos,

De avião, passeei de barco,

Nadei em rios, lagoas e oceano.

Quase entrei pelo cano,

Mas de uma simples coisa eu nunca me esqueci,

Nunca me esqueci de mim, da minha felicidade,

Do meu Deus, do nosso Deus,

Do meu Amor, do nosso Amor,

Me formei, fiz especialização,

Pós- graduação, mestrado e doutorado,

Me doutorei na vida, na minha vida,

Que alegria, que felicidade,

Quanta sacanagem.

Como disse casei, fiz filhos e os criei,

Perdi a conta de quantos foram,

Mas a principal coisa da minha vida,

Eu nunca me esqueci,

Não importa o que fiz e faço,

Não importa o passei e passo,

Não importa as emoções que vivi,

Não importa as ilusões e desilusões vividas,

Pois eu nunca me esqueci do maior dos bens,

Que me Deus me deu,

Nunca me esqueci nem no fundo do coração,

O lugar que tu escolheu,

Para sorrir, crescer,

Chorar, ser feliz,

E eternamente viver.

E sabe independente de tudo o vivido,

De ter ficar andando de muletas,

Bengala por tempos, nada mudou,

Nada mudou no mundo,

Apenas mudou o meu mundo,

O meu pensar, a minha forma de ver a vida,

E como vivo e encaro a vida,

Bem melhor hoje que no passado,

Afinal passado nem sei se vivi,

Futuro jamais viverei,

Vivo apenas o hoje, vivo no tempo presente,

Sempre fui no fundo o cara mais feliz do mundo,

Por que Você nunca me esqueceu,

Eu durante todo esse tempo de luta,

Sobrevivência, carência,

Amores conquistados e perdidos.

Lambidas e beijos,

Mordidas e caricias,

Sexo de todos os jeitos e formas,

Preconceitos e conceitos.

Eu nunca me esqueci de Você!

Mulher que nunca por mim foi tocada,

No sentido mais amplo da palavra Mulher,

Também não esqueci que tive um Pai, uma Mãe,

Quatro irmãos e uma irmã, a xodó, a caçula,

Poderia dizer depois dela, tudo pra ela,

Mas seria injusto, mas a vida não é mesmo justa,

Mas eu tive e nós todos tivemos Amor e criação.

Cacetes, religião e educação.

Por isso digo mas não acreditam,

Amo a todos sem distinção.

Nem sentimento mais nobre há,

Mas esse eu já senti e como é grande o amor da Amizade,

Pelos meus amigos eu morreria,

Não sei se eles por mim,

Muitos nem sabem que são meus amigos,

Podem ir todos os meus amores,

Mas se forem todos os meus amigos eu morreria.

Por isso, só por isso, minha vida já valeu.

Pois eu nunca me esqueci de Você!

Do Amor, do meu Amor!!

Da minha história, da minha vida!

De onde vim e nem pra onde vou!

Sei que nada tenho,

Sei que nada sou,

Mas possuo tudo,

E tudo sou!

Pois só o que possuo dentro de mim é o Amor!

Prof. Wagner Jardim 21h28min 09/08/2010

WAGNER JARDIM
Enviado por WAGNER JARDIM em 17/08/2010
Código do texto: T2442623
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