Alma-vagão
Sou apenas um velho-vago-vagão
à espera de mãos
que me passem saudades.
Sou apenas um velho-vago-vagão
à espreita de olhos
que seguem janelas
(o que podem ver nelas?)
hoje molduras de amplos,
trincados portões;
Outrora janelas mirando o infinito,
lagunas e campos,
bordeando rochões.
Trinava, acolá, ufano, um apito
e espirais de fumo alvinitente
na lonjura do sopé da serra frondescente
bocejavam, qual bruma em delicado baço.
Sou apenas um velho-vago-vagão
sufocando o cansaço,
implorando quedado,
sofrido,
surrado,
que uma simples poesia,
um único acorde, quiçá elegia,
não fique esquecida no meu coração
Sou apenas um velho-vago-vagão.