Ghost

Os fantasmas de ontem

nos exigem: nada contem!

E partilham de minha ceia.

É o Passado, o visco, a teia.

Que guerra lutei?

Ao fim de qual utopia parei?

Rôtas rotas,

minas e botas,

bombas e fuzis

e o eterno topor de aniz

nos seios da ninfa do chafariz.

De tudo, um pouco eu fiz.

Outro tanto, bem que quis,

mas daquilo jamais faria,

pois é crime de lesa-poesia.

E eu sonhava com a paz dourada

de libertos jardins na madrugada.

Mas eis que as Parcas

abrem seus baús e arcas

e me cortam o fio,

que pensei infindo pavio.

Já soa a sirene do navio

a convidar-me para outro desvario.

É hora de juntar-me às almas penadas

e às águas passadas.

Rever o pretérito imperfeito

e pensar no que deveria ter feito.