O Banho

Dos sais minerais, puro zelo
Que banham um corpo donzelo
Por tão venerável apelo
Um banho se faça singelo.

Aqui faço, em seguida,
A mais breve e refletida,
Oportuna e sólida promessa:
Não olhar, inda que peça!

De lado, só um pouquinho,
Deixo cair a máscara, e de soslaio
Olho com olhar de carinho
O que no banho sou um lacaio.

E a donzela guarnecida
Por longos laços de fitas
Mostra-se enternecida
Pelas águas mornas, infinitas.

E mesmo que aquecida
Coberta por braços e plumas
Banhos de claras espumas
Traz um frescor suicida.

Morro nos meus tormentos
Na longa noite vazia
Enquanto eu matava o tempo
A mim, ela esquecia.

Morrem seus fartos favores
Cai o pano do quarto
As cortinas fecham-se com louvores
Dança um corpo já farto
Sacia-se uma fera malvada
Chora e geme por nada
Enterra-se um amor varejista
Apaga-se o amor anarquista
Acaba-se um gozar repentista
É o fim de uma vida de artista.
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 17/07/2010
Reeditado em 14/10/2011
Código do texto: T2383352
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