Terra Preta
Quando criança havia uma casinha na colina
Pela estrada de terra quando seguia pra Cambuí
Uma casinha com cheiro de café torrado e bolo de fubá na mesa
Surgia sempre na névoa tênue da manhã ao som de uma viola que não se via
Atrás dela uma vilinha se espreguiçava verde
Vielas de terra, uma quitanda e telhados de barro
Colocada na colina uma capelinha acompanha lá de cima
O andar preguiçoso do carro de boi assentando a poeira
E nós seguíamos satisfeitos
Pai, mãe, irmãos, saudades e sonhos
Um dia quando a terra e a lavoura levaram meu pai com elas
Quando meus irmãos estavam todos já distantes
Minha mãe, devota de Nossa Senhora foi embora para Aparecida
E não mais voltou
Numa manhãzinha de inverno acordei e fui também embora
Eu, doente, deixei mulher e deixei filhos crescidos
Peguei a estrada velha rumo a São Paulo
E lá estava, depois de dois dias de lágrimas contidas, a vila cheia de luzes
Que saudades daqueles tempos de estrada de terra batida
E coração batendo feliz sem ter com o que se preocupar
Descobri que a dona da casinha não estava mais lá
E que o nome da vilinha agora era outro
Mas quando naquela terra firme eu me ajoelhei e chorei
O cheiro da comida caipira invadiu meus sentidos
E lá estava de viola na mão, meu pai e ao lado minha mãe
Nunca vou esquecer o nome daquele lugar, que tanto me trouxe felicidade e nostalgia
Num último sopro de vida, já envolvido na escuridão de quem se vai, eu sussurrei seu nome
Bom Jesus da Terra Preta
Homenagem ao distrito de Terra Preta, no municipio de Mairiporã. Entre Mairiporã e Atibaia, um lugar muito amado por seus moradores e muito lembrado pelos que lá passaram.