Promessa
Hoje fui visitar o meu irmão, no hospital
Que mal eu senti ao vê-lo deitado
Plantado na cama, sem alma, um coitado
O mal transparecendo no leito
O peito baixo, o olhar doentio, vazio
Não pude deixar de sentir pena
Ao menos Deus o levasse pra casa
Uma tábula rasa, uma orquídea branca
Um anjo transparente, quem sabe um duende
Senti pena de mim!
É, foi assim... eu senti o que não queria. Eu vi
Vi o meu irmão sem poder mexer a cabeça
Um olhar distante, sem firmeza
Tentei reanimá-lo, quis encorajá-lo
Ele reclamou. Era muita dor
O seu sustentáculo já não obedece
Padece quem por perto está
Esperando o milagre do altar...
Se Deus me ouvisse... Oh, Deus!
Um adeus pra me acalmar, um sorriso...
Um siso vulgar... a cor do mar...
Foi no mar que ele viveu sua vida
Na terra ele encontrou o amor
E a dor foi sua parceira maior
Desencantado, jovem partiu
Sumiu no mundo, sem destino
Menino, quis flutuar, o sonho acabou
Hoje vejo o homem que admirei tanto
Um santo imortal, sem barreiras
No pedestal da ladeira
Ele esbraveja sua ira tenaz
Um capataz da fraqueza
Rumoreja sua sorte traída
Foi a bebida, a vida, o fumo
Que o levou à queda
Merda! Que boa merda!
Sinto que o errado fui eu
Eu prometi, mas ele não...
Prometeu!