Mais um sonho infantil
Cada singelo falar
Traz me o pensamento
Falta em todo o canto a luz
Daquele tempo que nem me lembro
Lembro uma jogada
Um gol nas traves velhas e quebradas
Outro na poeira, ou mesmo na lama
Imaginando todo o estádio a gritar meu nome
Desenhando em linhas tortas o desenho da jogada
Fingido que seria lembrado
Pensando que até mesmo eu lembraria
Os pingos fortes batendo
Não impedem o drible no goleiro
A batida colocada
E só pensar que ninguém ouviu
E naquele instante
Milhares gritavam meu nome
Estádio lotado
Sonho alagado
A infância é tão bela por nos deixar correr
Suar, sangrar e sofrer
Entre infinitos e S’s plurais
Eu podia sorrir
Aquele sorriso branco amarelo
Nem bandeira de Uruguai
Isento de toda dor e culpa
Vertia o vermelho inglês
Isento do sofrimento e angústia
De cada novo sorrir
Desde cedo aprendi
O quão difícil era teorizar
Nunca gostei do sério modo de olhar
Tão simples ignorar toda indecisão
Pessoas em seu modelar rigoroso
Assombrosos olhares por dentes
Desmanchavam-se
Um a um
Por um sorriso
De um garoto nem tão pueril
Mas que facilmente abria o coração
Sem maldade ou mentira podia dizer
-Sinto-me tão feliz... Que até posso sorrir...